Presidente Lula enfrenta críticas por declarações polêmicas que alimentam a oposição e desgastam sua imagem



No seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem visto suas próprias declarações se tornarem alvo de críticas, inclusive entre simpatizantes, e alimentarem a oposição. Especialistas avaliam que os deslizes verbais do petista refletem sua dificuldade em se adaptar a um mundo mais exigente em relação a temas como machismo e racismo, além de um cenário em que as redes sociais amplificam rapidamente qualquer declaração polêmica. A oposição, por sua vez, tem se mostrado preparada para explorar esses erros na arena digital.


Um dos episódios mais recentes ocorreu na última semana, quando Lula, ao se dirigir a parlamentares, destacou ter escolhido “uma mulher bonita” para comandar a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), em referência a Gleisi Hoffmann (PT). A declaração gerou reações negativas nas redes sociais, com mais de 3.300 comentários nas plataformas da Meta (Instagram, Facebook e Threads) associando o presidente a termos como “absurdo” e “vergonha”, segundo relatório da consultoria GoBuzz para o jornal O Globo.


De acordo com a consultoria Bites, essa fala foi a segunda que mais gerou reação negativa ao presidente nas redes, superada apenas pela comparação feita por Lula entre os ataques israelenses à Faixa de Gaza e o Holocausto, em fevereiro de 2023. A análise aponta que declarações como essa não apenas desagradam grupos defensores da igualdade de gênero, mas também fornecem munição para os adversários políticos, que relembram episódios polêmicos do passado para desgastar ainda mais a imagem do petista.


Impacto negativo nas pesquisas


Um levantamento da GoBuzz, que analisou 5,9 milhões de conteúdos relacionados a declarações de Lula nas redes sociais ao longo dos últimos 365 dias, identificou os momentos que mais impactaram negativamente a imagem do presidente. Entre eles, estão falas consideradas machistas, como a menção a Gleisi Hoffmann e a afirmação de que “homens são mais apaixonados pela amante”, feita em janeiro de 2025. A popularidade de Lula vem caindo, especialmente entre as mulheres, um dos segmentos em que sua aprovação mais recuou este ano.


Outro momento crítico foi a declaração de Lula sobre a escravidão, descrita em março de 2024 como “uma coisa boa” por ter gerado “miscigenação”. Em fevereiro do mesmo ano, ele já havia feito um comentário considerado inadequado ao lado de uma jovem negra, afirmando que “afrodescendente assim gosta de um batuque de tambor”.


As falas mais polêmicas


A GoBuzz listou as oito declarações de Lula mais exploradas negativamente nas redes ao longo de um ano. Entre elas, destacam-se:


“Coloquei essa mulher bonita para ser ministra (…). Não quero mais ter distância de vocês.” — 12 de março de 2024, durante evento no Planalto. A fala foi considerada sexista por sugerir que a aparência de Gleisi Hoffmann foi determinante para sua nomeação.


“Não adianta o Trump ficar gritando de lá, porque eu aprendi a não ter medo de cara feia.” — 11 de março de 2025, durante cerimônia em Minas Gerais. A declaração direcionada ao ex-presidente dos EUA foi vista como um desafio desnecessário.


“Se tal produto está caro, você não compra.” — 6 de fevereiro de 2025, em entrevista a rádios da Bahia. A sugestão foi interpretada como insensível diante da alta nos preços dos alimentos.


“Eu sou um amante da democracia (…) porque, na maioria das vezes, os homens são mais apaixonados pela amante do que pelas mulheres.” — 8 de janeiro de 2025, em ato que lembrava os ataques de 8 de janeiro. A metáfora foi considerada inadequada e machista.


“Depois de jogo de futebol, aumenta a violência contra a mulher. Inacreditável. Se o cara é corinthiano, tudo bem.” — 16 de julho de 2024, durante reunião no Planalto. O comentário foi visto como uma relativização da violência de gênero.


“Toda desgraça que isso (a escravidão) causou ao país, causou uma coisa boa, que foi a mistura, a miscigenação.” — 14 de março de 2024, em visita a Roraima. A declaração foi interpretada como uma minimização dos horrores da escravidão.


“O que está acontecendo na Faixa de Gaza (…) só existiu quando Hitler resolveu matar os judeus.” — 18 de fevereiro de 2024, durante a Cúpula da União Africana. A comparação com o Holocausto gerou críticas de autoridades israelenses e foi considerada antissemita.


“A classe média ostenta um padrão de vida que não tem na Europa.” — 6 de abril de 2022, em entrevista à Folha de S. Paulo. A fala, ainda da pré-campanha, foi vista como desconectada da realidade econômica do país.


Histórico de controvérsias


Lula tem um histórico de declarações polêmicas que voltam a ser lembradas em momentos de crise. Entre elas, destacam-se:


“Pelotas é cidade polo, exportadora de viado.” — Frase dita em 2000, captada por microfones de TV.


“A dor da escravidão é como a de um cálculo renal: não adianta dizer, tem que sentir.” — Declaração durante visita ao Senegal em 2005.


“A Venezuela vive um excesso de democracia.” — Fala de setembro de 2005, ao assinar parceria com o governo de Hugo Chávez.


“O buraco é tão fundo que qualquer dia a Petrobras vai trazer um japonesinho na broca.” — Setembro de 2008, ao destacar o trabalho da estatal.


“Uma mulher não pode ser submissa ao homem por causa de um prato de comida. Tem que ser submissa porque gosta dele.” — Janeiro de 2010, já no final do segundo mandato.


“Cadê as mulheres de ‘grelo duro’ do PT?” — Conversa privada com o ex-ministro Paulo Vannucchi em 2016, revelada por grampos da Lava-Jato.

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